quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Passeio socrático

Li e repasso...
“... a avassaladora indústria do consumismo imprime aos objetos uma aura, um espírito, que nos transfigura quando neles tocamos. E se somos privados de privilégio, o sentimento de exclusão causa frustração, depressão, infelicidade.
Não importa que a pessoa seja imbecil. Revestida de objetos cobiçados, é alçada ao altar dos incensados pela inveja alheia. Ela se torna também objeto, confundida com seus apetrechos e tudo mais que carrega com ela mas não é ela: Bens, cifrões, carros...
‘Comércio’ deriva de ‘com mercê’, com troca. Hoje as relações de consumo são desprovidas de troca, impessoais, não mais mediadas pelas pessoas. Outrora, a quitanda, o boteco, a mercearia, criavam vínculos entre o vendedor e o comprador, constituindo também o espaço das relações de vizinhança, como ainda ocorre na feira. Agora, o supermercado suprime a presença humana. Lá está a gôndola abarrotada de produtos sedutoramente embalados. Ali, a frustração da falta de convívio é compensada pelo consumo supérfluo. “Nada poderia ser maior que a sedução” diria Jean Baudrillard.. “nem mesmo a ordem que a destrói”. E a sedução ganha seu supremo canal na compra pela internet. Sem sair da cadeira, o consumidor faz chegar em sua casa todos os produtos que deseja. Vou com freqüência a livrarias de shoppings e ao passar diante das lojas e contemplar os veneráveis objetos de consumo, vendedores me cercam indagando se necessito de algo. “Não, obrigado. Estou apenas fazendo um passeio socrático”, respondo. Olham-me intrigados e então explico: Sócrates foi um filósofo grego que viveu séculos antes de Cristo, que gostava de passear pelas ruas comerciais de Atenas. Assediado por vendedores como vocês, respondia: ‘Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz’. ”

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Eis

Eis o malandro na praça outra vez
Caminhando na ponta dos pés
Como quem pisa nos corações
Que rolaram nos cabarés

Entre deusas e bofetões
Entre dados e coronéis
Entre parangolés e patrões
O malandro anda assim de viés

Deixa balançar a maré
E a poeira assentar no chão
Deixa a praça virar um salão
Que o malandro é o barão da ralé